Estudo da natureza de Cristo e a Redenção

Por Marcos B. Dantas

Cristo foi criado ou sempre existiu?

Essa é uma questão central que toca no âmago da fé cristã. Quem é Jesus? Ele é um ser criado ou existiu eternamente como Deus? A resposta a essa pergunta não apenas molda nossa compreensão de Cristo, mas também define a eficácia de Sua obra redentora. A Bíblia nos dá clareza sobre essa questão em diversas passagens, sendo uma delas João 1:1-3, onde lemos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” Esse texto é claro em afirmar que Jesus, o Verbo, não foi criado, mas estava presente desde o início como o próprio Deus.

Colossenses 1:15: O que significa “Primogênito de Toda a Criação”?

Colossenses 1:15 afirma: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação.” À primeira vista, a palavra “primogênito” pode sugerir que Jesus foi criado. No entanto, ao entender o contexto bíblico e a cultura judaica, percebemos que o termo “primogênito” não se refere à ordem cronológica de criação, mas sim à preeminência e posição de honra. Em várias passagens da Escritura, o termo “primogênito” é usado para designar posição de autoridade ou privilégio, como em Salmos 89:27, onde Deus diz de Davi: “Também o farei meu primogênito, o mais elevado dos reis da terra.

O versículo seguinte, Colossenses 1:16, explica: “Pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades; tudo foi criado por meio dele e para ele.” Isso confirma que Cristo é o Criador de todas as coisas, e, portanto, não poderia ser uma criatura. Sua preeminência sobre a criação está enraizada em Sua divindade e autoridade sobre tudo.

Jesus, declara “EU SOU”

Vários versículos no Novo Testamento indicam que Jesus é o “EU SOU,” remetendo diretamente ao nome de Deus revelado a Moisés em Êxodo 3:14, onde Deus declara: “EU SOU O QUE SOU” No contexto judaico, essa expressão carrega um significado profundo de eternidade e auto existência. Abaixo estão os principais versículos nos quais Jesus se identifica como “EU SOU”:

1. João 8:58

Jesus diz aos judeus: “Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU.”
Aqui, Jesus usa o termo “EU SOU” (em grego, Ego Eimi), o que causou grande comoção entre os ouvintes, pois Ele estava reivindicando uma identidade divina.

2. João 8:24

Jesus afirma a necessidade de crer n’Ele para a salvação: “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados.”

Ao dizer “EU SOU” Jesus revela ser mais do que um profeta ou mestre, mas sim o próprio Deus encarnado.

3. João 13:19

Em um contexto de predição da traição de Judas, Jesus usa o termo para que Seus discípulos saibam quem Ele realmente é: “Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que EU SOU.”

Ele novamente usa “EU SOU” para afirmar Sua presciência e natureza divina.

4. João 18:4-6

Quando Jesus é preso no Jardim do Getsêmani, Ele se identifica como “EU SOU” ao ser perguntado pelos soldados se Ele era Jesus de Nazaré: “4 Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? 5 Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu. Ora, Judas, o traidor, estava também com eles. 6 Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra.” Essa reação física dos soldados ao ouvir “EU SOU” sugere o poder inerente à declaração divina de Jesus.

5. João 6:35; 8:12; 10:9, 11; 11:25; 14:6; 15:1
Esses versículos, conhecidos como os “Eu Sou” de Jesus, incluem várias metáforas onde Ele declara:

  • “Eu sou o pão da vida.” (João 6:35)
  • “Eu sou a luz do mundo.” (João 8:12)
  • “Eu sou a porta.” (João 10:9)
  • “Eu sou o bom pastor.” (João 10:11)
  • “Eu sou a ressurreição e a vida.” (João 11:25)
  • “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (João 14:6)
  • “Eu sou a videira verdadeira.” (João 15:1)

Embora nestas afirmações Jesus use “EU SOU” seguido de uma metáfora, Ele está novamente reivindicando Sua identidade divina e Sua função em prover salvação, luz, e direção

Contexto de Êxodo 3:14

Essas afirmações de Jesus como “EU SOU” remetem diretamente ao encontro de Moisés com Deus na sarça ardente, onde Deus declara: “EU SOU O QUE SOU.” Jesus, ao usar essa expressão, está revelando Sua união com o Deus de Israel e afirmando Sua divindade.

Esses versículos não deixam dúvida sobre a identidade de Jesus como o próprio Deus. Sua declaração como “EU SOU” foi clara para Seus ouvintes e para nós, indicando que Ele não é apenas um mestre ou profeta, mas o Deus eterno, presente antes da criação do mundo.

RESUMINDO

Vimos quanto a natureza de Cristo que Ele é um com o Pai e criador de todas as coisas. Agora, por que Cristo teve que morrer por nós? Não poderia ser qualquer ser humano, pois fomos nós que pecamos? Não poderia ter sido, por exemplo, Adão, antes de pecar?

O que aconteceria se um ser criado morresse na cruz?

Se um ser criado tivesse morrido na cruz, a redenção seria completamente insuficiente. A razão é que o pecado é uma ofensa infinita contra um Deus eterno, e apenas um sacrifício de valor infinito poderia satisfazer a justiça divina. A Bíblia nos ensina que Jesus foi capaz de suportar o peso do pecado do mundo porque Ele é o Deus eterno. Em Hebreus 9:14 lemos: “muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!

Se um ser criado tivesse morrido na cruz, seu sacrifício seria finito, incapaz de cobrir os pecados de toda a humanidade. A obra de redenção, portanto, teria falhado, e estaríamos ainda condenados em nossos pecados.

  • A gravidade do pecado: O pecado é uma ofensa contra Deus, que é infinito e santo. Assim, o castigo pelo pecado exige uma reparação de valor infinito, algo que nenhum ser criado (que é finito) poderia oferecer.
  • A substituição vicária: Para que a morte de Jesus fosse eficaz, Ele precisaria ser tanto completamente humano (para representar a humanidade) quanto completamente divino (para suportar o peso infinito do castigo devido aos pecados). Um ser criado não teria essas duas naturezas. Portanto, se alguém que não fosse Deus morresse na cruz, a expiação seria insuficiente para cobrir a culpa de toda a humanidade.
  • Reconciliação entre Deus e o homem: A morte de Cristo na cruz restaurou a comunhão entre Deus e o homem, algo que só o próprio Deus poderia fazer, pois só Ele é capaz de oferecer um sacrifício perfeito que satisfaz Sua justiça e demonstra Seu amor.

O que deixaríamos de receber se jesus não fosse deus?

Se Jesus não fosse Deus, estaríamos desprovidos da salvação completa e da vida eterna. A Bíblia é clara em afirmar que somente Deus pode nos conceder a vida eterna (Romanos 6:23 – “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.”). Se Cristo não fosse Deus, Sua morte não teria o valor necessário para nos reconciliar com Deus e nos garantir a eternidade com Ele. Além disso, não teríamos um Sumo Sacerdote eterno que intercede por nós diante de Deus, como Hebreus 7:25 declara: “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.

Além disso, Jesus sendo Deus nos assegura a plena revelação de quem Deus é. Em João 14:9, Jesus declara: “Quem me vê a mim vê o Pai.” Se Jesus não fosse Deus, a revelação de Deus ao homem estaria incompleta, e a nossa compreensão de Sua natureza e amor seria limitada.

Se Jesus não fosse Deus, vários aspectos centrais da nossa fé e da nossa salvação seriam comprometidos:

  • Redenção plena: Apenas Deus poderia proporcionar uma redenção que fosse suficiente para toda a humanidade. Um ser criado não poderia oferecer essa redenção universal, pois não teria a capacidade de satisfazer a justiça de Deus plenamente.
  • Vida eterna: Jesus, sendo Deus, é a fonte da vida eterna. Se Ele não fosse Deus, Ele não poderia vencer a morte e oferecer a vida eterna a todos os que creem n’Ele (João 11:25 – “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;”). A ressurreição de Cristo foi possível porque Ele é Deus, e isso garantiu nossa futura ressurreição.
  • Santidade imputada: A justiça de Cristo, que é atribuída aos crentes, depende do fato de Ele ser Deus. Se Ele fosse apenas um ser criado, Sua justiça seria limitada e não poderia ser imputada a outros de forma perfeita e completa.
  • Mediação eficaz: Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5 – “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,”). Como mediador, Ele pode interceder por nós perante o Pai porque Ele compartilha tanto da natureza humana quanto da natureza divina. Um ser criado não teria o poder ou a autoridade para essa mediação.

Adão e Eva poderiam ter morrido na cruz pelos nossos pecados?

Adão e Eva foram criados em perfeição, antes da entrada do pecado no mundo. No entanto, mesmo em seu estado perfeito, eles não poderiam satisfazer as exigências da lei em relação ao pecado. A razão é simples: sendo criaturas, sua vida era finita. Além disso, mesmo sem pecado, a morte deles não teria o valor eterno necessário para pagar pelo pecado de toda a humanidade.

A Bíblia nos ensina que é pela desobediência de Adão que o pecado entrou no mundo (Romanos 5:12 – “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”), e somente pela obediência perfeita de Cristo o pecado poderia ser redimido. Cristo é descrito como o “último Adão” (1 Coríntios 15:45 – “Pois
assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante.”), aquele que, por meio de Sua vida perfeita e morte sacrificial, fez o que o primeiro Adão não poderia fazer.

A morte de Cristo é única porque Ele é tanto Deus quanto homem. Como Deus, Seu sacrifício tem valor eterno; como homem, Ele pôde morrer em nosso lugar. Adão e Eva, sendo meros humanos, jamais poderiam oferecer um sacrifício capaz de satisfazer a justiça de Deus.

Conclusão

A Bíblia nos revela claramente que Jesus não foi criado, mas é o Deus eterno, que existiu desde o princípio. Ele é o “primogênito de toda a criação” não porque foi o primeiro a ser criado, mas porque tem a preeminência sobre todas as coisas. Sua divindade é essencial para a eficácia de Sua obra redentora. Se Jesus fosse apenas um ser criado, Seu sacrifício seria insuficiente para garantir a nossa salvação. A obra de Cristo na cruz nos assegura a redenção eterna, e somente Ele, o Deus eterno, poderia cumprir perfeitamente as exigências da justiça divina.

Espero ter ajudado e que o Espírito Santo tenha ajudado na compreensão da palavra de Deus.

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