Estudo de Mateus 7:1-14
Por Marcos B. Dantas
Mateus 7:1-14 – Conselho de Jesus no sermão do monte
Introdução
O sermão do monte, registrado em Mateus capítulos 5 a 7, apresenta os ensinamentos fundamentais de Jesus sobre o Reino de Deus. Em Mateus 7:1-13, Jesus aborda questões relacionadas ao julgamento, à oração e ao caminho da vida. Como podemos aplicar esses ensinamentos em nossas vidas hoje? Este artigo explora cada detalhe para responder a essa pergunta.
1. “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1-5)
Jesus começa com uma advertência clara contra o julgamento hipócrita. O contexto do versículo 1 é frequentemente mal interpretado, usado para justificar a ideia de que nenhum julgamento pode ser feito. No entanto, o versículo 2 esclarece o ponto: “Pois, com o juízo com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.”
EXPLICAÇÃO:
Hipocrisia no julgamento: O foco aqui é a hipocrisia. Antes de corrigir os outros, devemos examinar a nós mesmos. Jesus usa uma metáfora vívida no versículo 3: “Por que vês o cisco no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?”
Responsabilidade pessoal: Versículo 5: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o cisco do olho de teu irmão.” A correção só é válida quando feita com humildade e consciência de nossas falhas.
Referências adicionais:
João 7:24: Jesus diz para “julgar segundo a reta justiça.” Isso indica que julgamentos podem ser feitos, mas devem ser baseados em critérios justos e não em aparências.
Romanos 14:13: Paulo aconselha: “Não julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão.”
Contexto Geral de Romanos 14
Neste capítulo, Paulo aborda a convivência entre cristãos com diferentes níveis de maturidade na fé. Ele discute questões como o consumo de alimentos e a observância de dias sagrados, enfatizando que tais práticas devem ser guiadas pela consciência individual, mas sempre com respeito pelos outros.
O foco principal é promover a unidade no corpo de Cristo, evitando divisões por causa de questões secundárias. Paulo lembra que cada cristão é responsável diante de Deus por suas ações.
Explicação de Romanos 14:13
O versículo diz: “Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho de um irmão.”
1. “Deixemos de julgar uns aos outros”
Paulo exorta os cristãos a abandonarem julgamentos que dividem e enfraquecem a fé do próximo. Aqui, o “julgar” não se refere à correção amorosa (que tem lugar no discipulado), mas ao julgamento condenatório sobre práticas que não são essenciais para a salvação.
Exemplo bíblico: Em Romanos 14:2-3, Paulo menciona que alguns cristãos acreditavam ser aceitável comer tudo, enquanto outros, por consciência, optavam por uma dieta vegetariana. O ponto não era quem estava certo, mas a atitude de não desprezar ou julgar o outro.
2. “Façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo”
Paulo chama os cristãos a tomarem cuidado com suas ações, especialmente quando lidam com irmãos cuja fé pode ser mais fraca. Uma “pedra de tropeço” refere-se a algo que leva outro cristão a pecar ou se afastar da fé.
Exemplo prático: viver de forma íntegra para que a nossa conduta não cause escândalo. Mateus 18:6 – “Mas, se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe seria que se pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho e se afogasse nas profundezas do mar.”
Princípio-chave: O amor ao próximo deve superar nossa liberdade em Cristo (1 Coríntios 8:9).
Aplicações Práticas
* Respeito pelas diferenças: Devemos acolher cristãos que têm convicções diferentes das nossas em áreas não essenciais, sem julgá-los ou menosprezá-los.
* Amor em ação: Sempre que uma ação nossa puder causar confusão, mágoa ou queda espiritual a outro cristão, devemos abrir mão dessa prática por amor.
* Evitar escândalos: Precisamos viver de maneira que nosso comportamento reflita o cuidado com a edificação espiritual dos outros (ver Filipenses 2:4).
Resumindo
Romanos 14:13 nos ensina a praticar o amor e a empatia na convivência cristã. Em vez de julgar, somos chamados a construir, ajudando nossos irmãos a crescer na fé, sem impor pesos desnecessários ou causar tropeços. A mensagem central é que a unidade no corpo de Cristo deve sempre prevalecer sobre preferências e liberdades individuais.
2. “Não deis aos cães o que é santo” (Mateus 7:6)
Jesus instrui seus discípulos a não oferecerem coisas sagradas àqueles que as desprezam. Isso pode parecer duro, mas ressalta a importância de discernir onde investir nossos esforços.
Explicação:
Simbologia dos cães e porcos: Esses animais simbolizam pessoas que rejeitam persistentemente a verdade e a tratam com desprezo.
Prudência no compartilhar: Jesus não está sugerindo exclusividade no evangelismo, mas discernimento. Não devemos insistir onde a mensagem é continuamente desrespeitada (ver Atos 13:44-46).
3. “Pedi, e dar-se-vos-á” (Mateus 7:7-11)
A ênfase aqui é na persistência e confiança na oração. Jesus nos encoraja a pedir, buscar e bater, garantindo que Deus responde às orações.
Explicação:
Garantia divina: Versículo 8 afirma: “Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.” Isso não significa que Deus concede tudo o que pedimos, mas que Ele responde segundo Sua vontade e sabedoria.
Deus como Pai amoroso: No versículo 11, Jesus compara o cuidado humano com o amor perfeito de Deus: “Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem!”
Referências adicionais:
1 João 5:14: “Esta é a confiança que temos para com Ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, Ele nos ouve.”
4. A Regra de Ouro (Mateus 7:12)
Jesus resume a essência da Lei e dos Profetas: “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós.”
Explicação:
Lei e os Profetas: A regra de ouro reflete o espírito do Antigo Testamento (ver Levítico 19:18). Em vez de reagir às ações dos outros, devemos agir com base em como gostaríamos de ser tratados.
Princípio universal: Esse ensinamento transcende culturas e religiões, promovendo empatia e justiça.
5. O Caminho Estreito (Mateus 7:13-14)
Jesus conclui essa seção com um chamado ao discipulado comprometido: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e são muitos os que entram por ela.”
Explicação:
Porta estreita vs. porta larga: A porta estreita representa a vida no Reino de Deus, que exige renúncia e compromisso. A porta larga simboliza o caminho da conveniência e do pecado.
Poucos encontram: Isso reflete a natureza desafiadora do discipulado verdadeiro (ver Lucas 13:24).
Contexto Geral de Lucas 13:24
Este versículo está inserido no contexto de uma pergunta feita a Jesus em Lucas 13:23: “Senhor, são poucos os que são salvos?” Jesus responde não com um número, mas com uma advertência: a salvação requer esforço, compromisso e urgência. A imagem da “porta estreita” reforça a ideia de que seguir Jesus demanda dedicação e escolha pessoal.
Explicação do Versículo
1. “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”
A palavra grega usada para “esforçai-vos” é agonizomai, que transmite a ideia de um esforço intenso, como em uma competição atlética. Isso não significa que somos salvos por nossas obras (Efésios 2:8-9), mas que seguir Jesus exige:
* Renúncia pessoal: Abandonar o pecado e nossas prioridades mundanas (Lucas 9:23).
* Perseverança: Não é apenas um momento de fé, mas uma caminhada constante.
2. “Pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão”
Aqui, Jesus alerta que muitos desejarão a salvação, mas não estarão dispostos a pagar o preço necessário. A “porta estreita” implica um caminho que exclui orgulho, autossuficiência e superficialidade.
* Motivo da impossibilidade: Alguns procuram tarde demais (ver Lucas 13:25-27), ou tentam por meios errados, como confiar em suas próprias obras ou relacionamentos em vez de em Jesus.
* Ponto Controverso: Salvação por Esforço?
Algumas pessoas interpretam erroneamente que este versículo ensina a salvação pelas obras. No entanto:
A salvação é um presente de Deus: Efésios 2:8-9 deixa claro que somos salvos pela graça, por meio da fé.
* Esforço no discipulado: O esforço aqui é para viver a fé, combater o pecado e perseverar até o fim (Hebreus 12:1-2). Não é ganhar a salvação, mas evidenciar que a recebemos.
Aplicação Prática
* Compromisso sério: A vida cristã não é algo casual. Devemos buscar a Deus com todo o nosso coração, alma e mente (Mateus 22:37).
* Urgência: Não sabemos quando será tarde demais para responder ao chamado de Deus (Lucas 13:25).
* Exclusividade de Jesus: A “porta estreita” simboliza Jesus como o único caminho para a salvação (João 10:9; João 14:6).
Resumindo:
Lucas 13:24 nos desafia a viver uma fé autêntica e comprometida. Jesus nos chama a entrar pela porta estreita, que representa o caminho do discipulado, marcado por renúncia, perseverança e confiança total n’Ele. A pergunta que devemos nos fazer é: estamos dispostos a pagar o preço necessário para seguir Jesus?
Referências adicionais:
Provérbios 4:26-27: Adverte sobre permanecer no caminho correto, evitando desvios.
João 10:9: Jesus se identifica como a porta pela qual as ovelhas entram para encontrar salvação.
Conclusão
Mateus 7:1-14 apresenta ensinamentos desafiadores e transformadores. Somos chamados a evitar julgamentos hipócritas, agir com discernimento, confiar na providência de Deus, tratar os outros com amor e seguir o caminho estreito. Esses princípios, quando aplicados, refletem o caráter do Reino de Deus em nossas vidas.
Como você pode aplicar essas verdades hoje? Que atitudes precisam ser ajustadas para seguir o caminho estreito? Que essas reflexões o levem a uma caminhada mais profunda com Cristo.