O Verdadeiro dia do Senhor

Por Marcos B. Dantas

Sábado x Domingo – parte 6

Historicidade

Pois bem, se biblicamente não encontramos nenhum respaldo em relação a mudança do dia do Senhor, então dá onde veio a prática que hoje se segue no meio da maioria dos cristãos em celebrar o primeiro dia da semana, como o dia do Senhor?

Vamos então dar uma olhada, nos contextos históricos da época e ver se encontramos alguma base teológica sobre esse assunto.

Imperador Constantino

Antes do Édito de Milão, que foi proclamado em 313 d.C., pelo imperador Constantino, os cristãos enfrentavam várias formas de perseguição no Império Romano. Essas perseguições variaram em intensidade ao longo dos séculos e eram motivadas por uma série de razões políticas, sociais e religiosas. Alguns pontos importantes sobre o tratamento dos cristãos nesse período incluem:

Primeiras Perseguições: As primeiras perseguições aos cristãos ocorreram esporadicamente e de maneira localizada. O mais famoso dos primeiros perseguidores foi o imperador Nero, que acusou os cristãos de incendiar Roma em 64 d.C. e usou essa acusação como pretexto para torturá-los e executá-los de maneiras brutais.

Perseguições Decianas: No século III, durante o reinado do imperador Décio, houve uma perseguição sistemática aos cristãos. Décio ordenou que todos os cidadãos romanos sacrificassem aos deuses romanos e obtivessem um certificado de sacrifício. Aqueles que se recusavam, incluindo muitos cristãos, eram torturados e executados.

Perseguições de Diocleciano: As mais severas e organizadas perseguições ocorreram sob o imperador Diocleciano e seus co-imperadores no final do século III e início do século IV. Diocleciano emitiu uma série de decretos que resultaram na destruição de igrejas, queima de escrituras sagradas e prisão de líderes cristãos. Os cristãos foram forçados a sacrificar aos deuses romanos ou enfrentar a morte.

Martírios: Muitos cristãos foram martirizados durante essas perseguições, sendo mortos de maneiras extremamente cruéis, incluindo crucificações, serem queimados vivos, jogados às feras nos anfiteatros e submetidos a outras formas de tortura pública.

Relação dos Escravos com o Cristianismo A relação entre os escravos e o cristianismo no Império Romano foi complexa e multifacetada:

Conversão e Acolhimento: O cristianismo, desde seus primórdios, atraiu muitos escravos. A mensagem de igualdade espiritual e fraternidade universal do cristianismo era particularmente atraente para os escravos, que encontravam na nova fé um sentido de dignidade e esperança.

Comunidades Cristãs: Nas primeiras comunidades cristãs, escravos e livres muitas vezes adoravam juntos, o que era revolucionário numa sociedade altamente estratificada, ou seja, era uma sociedade dividida em classes sociais. A fraternidade cristã transcendia as divisões sociais tradicionais, criando um senso de igualdade entre seus membros.

Textos Cristãos: Vários textos do Novo Testamento abordam a relação entre senhores e escravos. Por exemplo, a Carta de Paulo a Filemom é um apelo para que Filemom trate Onésimo, seu escravo fugitivo convertido ao cristianismo, com misericórdia e como um irmão na fé.

Tratamento dos Escravos: Embora o cristianismo primitivo não tenha advogado abertamente pela abolição da escravidão, ele encorajava um tratamento mais humano e compassivo aos escravos. O cristianismo ensinava que todos eram iguais aos olhos de Deus, uma ideia que, a longo prazo, contribuiria para mudanças na forma como os escravos eram tratados.

Martírio e Testemunho: Alguns escravos cristãos foram martirizados por sua fé, tornando-se exemplos poderosos de devoção e coragem. Suas histórias eram contadas e veneradas dentro das comunidades cristãs, inspirando outros a perseverarem em face da perseguição.

Como vimos, os cristãos sofreram muito durante o império Romano. Mas um fato interessante aconteceu. Durante toda a fase de perseguição dos cristãos, houve uma mudança de estratégia, trocando de perseguição, para uma “certa” liberdade religiosa.

Principais pontos dessa mudança

Vejamos quais foram os principais pontos que influenciaram essa mudança:

I. Crescimento do Cristianismo
Aumento do Número de Cristãos: Ao longo dos séculos II e III, o cristianismo cresceu significativamente em número de adeptos, espalhando-se por todas as regiões do império Romano. A crescente presença de cristãos em todas as camadas sociais, inclusive entre as elites, tornou cada vez mais difícil ignorar ou reprimir o movimento.

II. Impacto Político e Militar
Crise do Século III: Durante o século III, o Império Romano enfrentou graves crises políticas, econômicas e militares. Essas crises enfraqueceram a coesão interna do império e levaram à busca de novas formas de estabilizar a sociedade e fortalecer a autoridade imperial.
Ascensão de Constantino: Constantino, após a sua vitória na Batalha da Ponte Mílvia em 312 d.C., passou a ver o cristianismo como uma possível fonte de unidade e apoio. Ele acreditava que o Deus cristão o havia concedido a vitória e, portanto, começou a adotar uma postura mais favorável aos cristãos.

III. Mudança na Percepção Religiosa
Monoteísmo e Sincretismo: O Império Romano, caracterizado por uma ampla diversidade religiosa e uma tendência ao sincretismo (o ser humano usa elementos do seu meio ambiente e de sua cultura para homenagear os seus deuses ou deus.), começou a se interessar mais pelo monoteísmo, que oferecia uma forma de unificar o império sob uma crença comum. O cristianismo, com sua promessa de vida eterna e moralidade rígida, tornou-se cada vez mais atraente.
Experiência Pessoal de Constantino: Constantino teve visões e experiências que ele interpretou como sinais da proteção e favor do Deus cristão, reforçando sua simpatia pelo cristianismo.

IV. Reformas de Diocleciano e Tolerância Religiosa
Perseguições Dioclecianas: Antes de Constantino, o imperador Diocleciano havia implementado as mais severas perseguições aos cristãos (303-311 d.C.), mas essas medidas se mostraram contraproducentes. Em vez de extinguir o cristianismo, as perseguições muitas vezes reforçavam a fé e a coesão entre os cristãos.
Fracasso das Perseguições: A persistência e o crescimento contínuo do cristianismo, apesar das perseguições, demonstraram que a política de repressão não estava alcançando seus objetivos e, na verdade, estava gerando mártires e fortalecendo a causa cristã.

V. Édito de Milão (313 d.C.)
Proclamação do Édito: O Édito de Milão foi promulgado por Constantino e Licínio, concedendo “liberdade religiosa” a todos os cidadãos do Império Romano e especificamente garantindo aos cristãos o direito de praticar sua religião abertamente e sem perseguição.
Justificativa Oficial: O édito argumentava pela necessidade de paz e segurança no império, reconhecendo que a liberdade de culto era essencial para a estabilidade e prosperidade do Estado.

Consequências do Édito de Milão

Legalização do Cristianismo: O cristianismo deixou de ser uma religião proscrita e começou a receber o apoio e patrocínio do Estado.

Construção de Igrejas: Constantino incentivou a construção de igrejas e outros edifícios religiosos, marcando o início de uma nova era para a religião cristã.

Mudança Social e Cultural: A aceitação oficial do cristianismo teve um impacto profundo na sociedade romana, levando a mudanças significativas nas práticas religiosas, sociais e culturais do império.

Resumindo

A mudança de estratégia em relação à perseguição dos cristãos no Império Romano foi influenciada por uma combinação de fatores políticos, sociais, religiosos e pessoais, culminando na promulgação do Édito de Milão e na eventual adoção do cristianismo como religião oficial do império.

Após o Édito de Milão, promulgado por Constantino em 313 d.C., o domingo passou a ser oficialmente reconhecido como o dia de culto pelos cristãos no Império Romano. Esta escolha e sua oficialização têm várias razões e conexões, algumas das quais estão relacionadas com práticas romanas pré-existentes.

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